Era Inverno, o dia estava cinzento e frio, quando entrei naquele hospital para ver e saber do estado de saúde duma grande amiga minha que ali permanecia já há alguns dias. Entrei na enfermaria e logo vi seis tristes e amargurados rostos. Procurei dar a cada um deles uma palavrinha de conforto, mas havia num dos cantos, alguém que chorava! Uma senhora de cabelos tão brancos que denunciavam a sua idade avançada. Abeirei-me dela e perguntei-lhe porque chorava. Respondeu-me que todos os dias àquela hora (hora da visita) olhava a porta para ver se chegava alguém de família para a visitar. – “ Tenho 5 filhos e 8 netos mas ainda ninguém me veio ver desde que estou aqui”! “Eu sei que vivem longe daqui, vivem a mais de cem kilómetros! ! Disse-me ela.
A senhora estava deveras desesperada e em conflito com a vida!
Passou uma enfermeira a quem pedi uma palavrinha sobre a situação daquela senhora. Disse-me ela que era uma situação muito difícil. Aquela senhora tinha ido para um lar da terceira idade já há alguns anos e como era uma pessoa muito doente a directora do lar não fugia à responsabilidade de ter que pedir internamento para ela sempre que necessitasse de cuidados médicos. Disse-me também que o pessoal médico já comentava aquela situação, dado que, se estava a agravar. Era uma doente em desespero, recusava o comer e não aceitava os tratamentos prescritos pelo médico. Era uma pessoa que sentia muita revolta dentro dela.
Aproximei-me de novo junto da senhora e tentei acalmá-la. Afaguei-lhe os seus cabelos e foi quando a ouvi dizer que a angústia de se sentir desprezada pelos filhos era a principal causa da sua doença! Não se importava que a morte a levasse, pois já estava muito velha e não sentia interesse nenhum pela vida! Dizia repetidamente : - “Dei tanto amor aos meus filhos e agora vejo-me só! Não me querem porque estou muito velha, não me conformo!” “ Os meus filhos mandaram-me para aquele lar onde eu não me sinto bem. “Eu era tão feliz na minha casinha…é para onde eu quero ir… para a minha casa!”
Dei-lhe a mão e consegui que saísse da cama e levei-a até à janela. Apesar do dia estar sem sol, senti que ela admirava a paisagem e ia falando do tempo que cuidava as suas árvores de frutos, das suas flores, do tempo das vindimas, e recordava com saudade o tempo que cuidava dos seus netinhos e das cantigas que ela lhes ensinava. Teria tido uma vida muito activa mas a idade avançada retirou-lhe toda essa capacidade de acção!
Despedi-me com a promessa de a visitar sempre que me fosse possível. Ela olhou-me com um sorriso! Um sorriso de agradecimento mas com o coração magoado!
Fui embora e já ao fundo do corredor, olhei para trás. Estava ela acenando, e também eu lhe disse um adeus, sorrindo mas chorando!
Tudo isto me fez pensar. Porquê aquele abandono?
A VELHICE NÃO PODE SER = A ABANDONO!
MUITO PELO CONTRÁRIO, A VELHICE DEVERIA SER PREMIADA PELO TRABALHO E EXEMPLO VIVO DE DEDICAÇÃO, AMOR E MUITO SOFRIMENTO AO LONGO DE MUITOS E MUITOS ANOS!
A sociedade deveria assumir com todo o respeito e empenho, que a velhice tem direitos irreversíveis! Há que lutar por esses direitos, junto dos governantes deste País, para que as famílias possam encontrar recursos, de modo a que os seus idosos tenham um bem estar junto dos que amam. Têm que ser encontrados os meios necessários para que os nossos idosos tenham uma vida com dignidade, dando-lhes a possibilidade de se sentirem de alguma forma ainda úteis até ao fim das suas vidas, enquanto sentirem forças e terem a lucidez desejada!
Eu advogo que os lares da terceira idade deverão ser uma alternativa para os idosos, quando a situação destes for de todo complicada ou seja, quando necessitam mesmo de uma assistência médica permanente. Infezmente o que todos nós vemos hoje, são lares cheios de pessoas idosas, e muitas delas ainda com capacidade física e mental,que lhes permite ter uma actividade em suas casas, ou junto de alguém, de modo a sentirem que ainda estão vivas e por isso, úteis à sociedade a que pertencem.
No Dia Mundial da Terceira Idade, um dos maiores problemas com que os idosos se confrontam é a falta de resposta quando necessitam de cuidados continuados, é a falta de carinho, é sentirem-se sós!